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Falar sobre Saúde Mental é refletir sobre o Enfrentamento ao Racismo

31.01.2023

Dando continuidade à campanha “O que é falar sobre saúde mental?”, o Conselho Regional de Psicologia de Pernambuco - 2ª Região (CRP - PE) destaca o compromisso da categoria em relação à temática do Enfrentamento ao Racismo.

Falar sobre saúde mental requer voltar o olhar para a composição da população brasileira em sua dimensão étnico-racial e reconhecer nossa diversidade assentada nas matrizes indígenas e africanas, considerando também as assimetrias de poder que tem delineado condições e vulnerabilidades específicas, produtoras de sofrimento, para as pessoas negras e indígenas brasileiras.

Neste sentido, o Conselho Federal de Psicologia por meio da Resolução CFP Nº 018/2002 estabelece normas de atuação para as psicólogas em relação ao preconceito e à discriminação racial. Considera o Art. 1º desta resolução que “Os psicólogos atuarão segundo os princípios éticos da profissão contribuindo com o seu conhecimento para uma reflexão sobre o preconceito e para a eliminação do racismo”. Destrate, corrobora o compromisso ético-político da categoria no enfrentamento do racismo enquanto pilar estruturante das relações sociais em nosso país e, por consequência, também opera no âmbito das práticas de cuidado em psicologia/saúde mental.

Para isso, é importante problematizar os traços da branquitude eurocêntrica e colonial que constituem as plataformas teórico-científicas que subsidiam nosso fazer e que, consequentemente, reproduzem o racismo estrutural, reforçando aspectos da colonialidade e trazendo como resultado a produção do adoecimento mental.

Em face destas questões, refletir sobre o racismo requer das psicólogas a identificação dos atravessamentos etnico-raciais de seu fazer. Para tal, deixamos uma provocação a partir das palavras de Lilian Alves, mulher, negra, socióloga, psicóloga, mestra e doutoranda em Psicologia e colaboradora da Comissão de Enfrentamento ao Racismo, que traz em sua elaboração reflexos do impacto do racismo na saúde mental do sujeito e na maneira de se relacionar consigo e com o mundo:

O CHICOTE DO RACISMO

O chicote do racismo todo dia faz sangrar; de que lado do chicote você está? Levanto cedo
Preciso ir ao banco
Que roupa usar?

Escolho uma
Pra parecer menos
com cara de pobre
Tiro as havaianas
Pó na cara, batom

Na bolsa poucos objetos
Tempo fecha
Vai chover
Guarda-chuva?

Cuidado
Lembra a lista?
Guarda-chuva
Cassetete
Furadeira
Tudo arma
Tudo arma?

Armação
Amarração
O chicote cospe bala
Cospe morte
De um açoite
Atravessa o corpo
Pei!
Pum.
Corpo no chão

De que cor?
Cor de gente
Cor de indigente
Cor de quem range
Range os dentes

O chicote de bala
Cambaleou mais um
Carcomeu uma vida

Do lado oposto que alveja
Combalidos
Esmaecentes
Olhos fulguram dor
Mãos tateiam socorro
Vida regurgita corpo
Corpo regurgita vida

É, o chicote pegou mais um
Mais um lá.
E você?
Você, onde está?

Lilian Alves Machado - CRP 02/22.938
PSICÓLOGA

PS: Perguntemo-nos em nosso fazer clínico.

Publicações anteriores sobre o tema:

Falar sobre Saúde Mental é refletir sobre Gênero e Sexualidade - http://crppe.org.br/noticias/falar_sobre_saude_mental_e_refletir_sobre_genero_e_sexualidade

Falar sobre Saúde Mental é refletir sobre Políticas Públicas - http://crppe.org.br/noticias/falar_sobre_saude_mental_e_refletir_sobre_politicas_publicas

CRP-PE convida a categoria para falar sobre Saúde Mental - http://crppe.org.br/noticias/crp-pe_convida_a_categoria_para_falar_sobre_saude_mental

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